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Teoria Fundamentada (Grounded Theory)

Descubra tudo sobre a Teoria Fundamentada (Grounded Theory) neste guia completo para estudantes. Aprenda seus princípios, etapas, abordagens (Glaser, Strauss & Corbin, Charmaz) e como aplicá-la em pesquisas qualitativas. Exemplo prático incluído! 📚 #PesquisaQualitativa #Metodologia

Se você está envolvido em pesquisas qualitativas, já deve ter ouvido falar da Teoria Fundamentada (Grounded Theory – GT), uma das metodologias mais influentes e sistemáticas para análise de dados qualitativos. Desenvolvida na década de 1960 por Barney Glaser e Anselm Strauss, essa abordagem permite que o pesquisador construa teorias a partir dos dados coletados, em vez de testar hipóteses pré-existentes.

Neste post, vamos explorar:

  1. O que é a Teoria Fundamentada?
  2. Princípios básicos e características
  3. As diferentes abordagens (Glaser, Strauss & Corbin, Charmaz)
  4. Etapas do processo de pesquisa
  5. Vantagens e críticas
  6. Exemplo prático de aplicação

1. O que é a Teoria Fundamentada?

A Teoria Fundamentada (Grounded Theory) é um método de pesquisa qualitativa que visa gerar teorias a partir da análise sistemática de dados empíricos. Diferente de outras abordagens que partem de um referencial teórico prévio, a GT permite que a teoria “emerja” dos dados coletados, sendo “fundamentada” (grounded) na realidade observada.

Ela é amplamente utilizada em áreas como:

  • Sociologia
  • Psicologia
  • Administração
  • Saúde
  • Educação

2. Princípios Básicos e Características

A GT possui algumas características essenciais:

Indução Analítica: A teoria é construída a partir dos dados, não de suposições prévias.
Amostragem Teórica: Os participantes são selecionados com base nas necessidades da teoria em desenvolvimento.
Comparação Constante: Dados são constantemente comparados para identificar padrões e categorias.
Saturação Teórica: A coleta de dados para quando novas informações não trazem insights relevantes.
Codificação Aberta, Axial e Seletiva: Processo sistemático de análise dos dados.

3. Abordagens da Teoria Fundamentada

Existem diferentes correntes dentro da GT, cada uma com suas particularidades:

a) Glaser (Abordagem Clássica)

  • Foco na emergência natural da teoria.
  • Evita imposição de estruturas rígidas.
  • Menos prescritiva em relação a etapas.

b) Strauss & Corbin (Abordagem Estrutural)

  • Propõe um método mais sistemático e detalhado.
  • Introduz a codificação axial e o paradigma de condições, ações e consequências.
  • Críticos argumentam que pode forçar demais os dados em categorias pré-definidas.

c) Charmaz (Abordagem Construtivista)

  • Incorpora perspectivas pós-modernas e interpretativas.
  • Reconhece que a teoria é construída pelo pesquisador, não apenas “descoberta”.
  • Ênfase na subjetividade e contexto.

4. Etapas da Pesquisa em Teoria Fundamentada

A Teoria Fundamentada é um processo iterativo e sistemático, no qual a coleta e a análise de dados ocorrem em paralelo. Abaixo, detalhamos cada etapa com exemplos práticos para facilitar sua aplicação:

Etapas da Pesquisa em Teoria Fundamentada (Grounded Theory)

4.1. Coleta de Dados Iniciais

  • Objetivo: Obter informações ricas e relevantes sobre o fenômeno estudado.
  • Fontes comuns:
  • Exemplo: Se o tema for “Como professores universitários lidam com a frustração em sala de aula?”, as primeiras entrevistas podem explorar experiências emocionais e estratégias de enfrentamento.

🔹 Dica: Comece com uma amostra pequena e diversificada (5-10 participantes) e expanda conforme surgem novas categorias (amostragem teórica).

4.2. Codificação Aberta (Open Coding)

  • Objetivo: Quebrar os dados em unidades significativas e identificar conceitos emergentes.
  • Processo:
    1. Fragmentação: Ler os dados linha por linha, destacando palavras/frases-chave.
    2. Rotulação: Atribuir códigos descritivos a cada trecho relevante.
    3. Agrupamento: Consolidar códigos similares em categorias preliminares.
  • Exemplo:
    • Trecho da entrevista“Sinto que os alunos não se importam com a aula… às vezes penso em desistir.”
    • Códigos possíveis:
      • “Desmotivação docente”
      • “Percepção de desinteresse discente”
      • “Pensamentos de abandono”

🔹 Dica: Use software como NVivo ou Atlas.ti para organizar os códigos, mas evite automatizar demais — a reflexão crítica é essencial.

4.3. Codificação Axial (Axial Coding) (Strauss & Corbin)

  • Objetivo: Relacionar categorias e subcategorias para formar um modelo coerente.
  • Estrutura do Paradigma:
    • Fenômeno Central: O conceito principal que emerge (ex.: “Frustração docente”).
    • Condições Causais: Fatores que influenciam o fenômeno (ex.: “Turmas grandes”, “Falta de recursos”).
    • Estratégias/Ações: Como os participantes respondem (ex.: “Busca por formação pedagógica”).
    • Consequências: Resultados das ações (ex.: “Melhora na autoeficácia”).

Exemplo prático:

Fenômeno: "Frustração em sala de aula"  

├─ Condições Causais:
│ ├─ "Alunos despreparados"
│ └─ "Cobrança institucional"

├─ Estratégias:
│ ├─ "Adaptação didática"
│ └─ "Suporte entre colegas"

└─ Consequências:
├─ "Redução do estresse"
└─ "Renovação da motivação"

🔹 Dica: Diagramas ou matrizes ajudam a visualizar relações entre categorias.

4.4. Codificação Seletiva (Selective Coding)

  • Objetivo: Integrar todas as categorias em uma narrativa teórica unificada.
  • Processo:
    1. Identificar a categoria central (o “cerne” da teoria).
    2. Refinar as conexões com outras categorias.
    3. Escrever uma história teórica que explique o fenômeno.
  • Exemplo:
    • Categoria Central“Ciclo de frustração e resiliência docente”
    • Narrativa“Professores experienciam frustração devido a condições adversas (X), adotam estratégias individuais e coletivas (Y), levando a consequências positivas ou negativas (Z).”

4.5. Saturação Teórica

  • Critério de Parada: Novos dados não acrescentam insights relevantes às categorias já estabelecidas.
  • Como avaliar:
    • Após ~15-20 entrevistas (varia por estudo), verifique se:
      • Novos participantes repetem padrões já identificados.
      • Nenhuma categoria nova surge.

🔹 Dica: Registre decisões metodológicas em um diário de pesquisa para garantir transparência.

4.6. Redação da Teoria

  • Formato: Pode ser um modelo visual (diagrama) ou texto descritivo.
  • Elementos-chave:
    • Contexto do fenômeno.
    • Relações entre categorias.
    • Implicações práticas/teóricas.
  • Exemplo de Saída:“A teoria emergente sugere que a frustração docente é um processo dinâmico, mediado por fatores institucionais e estratégias de coping, com impactos diretos na saúde mental e na prática pedagógica.”

4.7. Comparativo entre Tipos de Codificação

EtapaFocoFerramentas ÚteisResultado Esperado
AbertaConceitos iniciaisAnotações, post-itsLista de códigos/categorias
AxialRelações entre categoriasMatrizes, diagramasModelo com condições/ações
SeletivaIntegração teóricaNarrativa escritaTeoria fundamentada

Perguntas para Autoavaliação

  1. Minhas categorias refletem os dados brutos ou impus minha interpretação?
  2. As relações entre categorias são logicamente consistentes?
  3. A teoria explica o fenômeno de forma abrangente e original?

Essa estrutura detalhada garante rigor metodológico e clareza na aplicação da GT. Pratique com dados reais e ajuste o processo conforme necessário!

5. Vantagens e Críticas

Vantagens:

  • Flexibilidade para adaptação a diferentes contextos.
  • Geração de teorias diretamente ligadas aos dados.
  • Útil para explorar fenômenos pouco estudados.

Críticas:

  • Pode ser demorado e trabalhoso.
  • Risco de subjetividade excessiva na interpretação.
  • Dificuldade em alcançar saturação em amostras pequenas.

6. Exemplo Prático

Tema: “Como estudantes universitários lidam com o estresse durante o período de provas?”

  • Coleta de dados: Entrevistas com 20 alunos.
  • Codificação aberta: Surgem códigos como “noites sem dormir”, “apoio dos amigos”, “autocobrança”.
  • Codificação axial:
  • Fenômeno central: “Gerenciamento do estresse acadêmico”
  • Estratégias: “Uso de técnicas de relaxamento”, “estudo em grupo”.
  • Teoria emergente: “Estudantes adotam estratégias ativas e passivas para lidar com o estresse, influenciadas por redes de apoio e percepção de autoeficácia.”

Conclusão

A Teoria Fundamentada é uma metodologia poderosa para pesquisadores que desejam construir teorias a partir de dados empíricos, sem depender de estruturas prévias. Se você está começando, recomendo explorar as obras de Glaser & Strauss (1967), Strauss & Corbin (1990) e Charmaz (2006) para entender as diferentes abordagens.

E você, já utilizou a GT em sua pesquisa? Compartilhe suas experiências nos comentários!

📚 Leituras recomendadas:

  • GLASER, B.; STRAUSS, A. The Discovery of Grounded Theory. 1967.
  • STRAUSS, A.; CORBIN, J. Basics of Qualitative Research. 1990.
  • CHARMAZ, K. Constructing Grounded Theory. 2006.

Espero que este guia tenha sido útil! Se tiver dúvidas, deixe nos comentários. 👇

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Luana Roratto

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