Quando falamos em pesquisa científica, alguns conceitos são fundamentais para estruturar um estudo de forma clara e objetiva. Entre eles estão teoria, hipótese e as variáveis dependente e independente. Neste post, vamos explorar cada um desses termos, com definições e exemplos para facilitar o entendimento.
1. O que é Teoria?
Uma teoria é um conjunto de princípios ou ideias que explicam um fenômeno com base em evidências científicas acumuladas. Ela surge a partir de observações, experimentos e testes repetidos, e serve como base para novas pesquisas.
Exemplo:
A Teoria da Evolução, proposta por Charles Darwin, explica como as espécies mudam ao longo do tempo por meio da seleção natural. Essa teoria é sustentada por evidências fósseis, genéticas e biológicas.
2. O que é Hipótese?
Uma hipótese é uma suposição testável que tenta explicar uma relação entre variáveis. Ela é formulada com base em teorias ou observações prévias e deve ser passível de verificação por meio de experimentos ou análises.
Exemplo:
Se um pesquisador estuda o efeito do sono na memória, uma hipótese poderia ser:
“Pessoas que dormem 8 horas por noite terão melhor desempenho em testes de memória do que aquelas que dormem apenas 4 horas.”
3. Variáveis Dependente e Independente
O que é uma Variável Independente (VI)?
Variável Independente é o fator que o pesquisador manipula ou controla para observar seu efeito. É a causa presumida em um estudo.
- Essas variáveis influenciam, afetam ou determinam outras variáveis.
- É fator determinante, condição ou causa para determinado resultado, efeito ou consequência.
- É o fator manipulado pelo pesquisador com o objetivo de determinar a relação do fator com o fenômeno observado, para ver que influência exerce sobre um possível resultado.
O que é uma Variável Dependente (VD)?
Variável Dependente é o resultado ou efeito que o pesquisador mede. Ela “depende” da variável independente.
- São valores (fenômenos ou fatos) a serem descobertos ou explicados, em virtude de serem influenciados, determinados ou afetados pela variável independente.
- É o fator que aparece, desaparece, aumenta ou diminui a medida que o pesquisador modifica a variável independente;
- É a propriedade que ou fator que é efeito, resultado, consequência ou resposta a algo que foi manipulado (variável independente).
Exemplo:
Em um estudo sobre o efeito da cafeína na concentração:
- VI (Independente): Quantidade de cafeína consumida (0mg, 50mg, 100mg).
- VD (Dependente): Desempenho em um teste de concentração.
4. Como Teorias, Hipóteses e Variáveis são Aplicados na Pesquisa Científica
A pesquisa científica é um processo estruturado que busca responder perguntas ou resolver problemas com base em evidências. Para isso, os conceitos de teoria, hipótese e variáveis desempenham papéis fundamentais em cada etapa do método científico. Vamos explorar como esses elementos são utilizados na prática.
4.1. O Papel da Teoria na Pesquisa
A teoria serve como alicerce para a pesquisa, fornecendo um quadro de referência que explica fenômenos já observados e orienta novas investigações.
Como é utilizada?
- Direciona a formulação de perguntas de pesquisa – Com base em teorias existentes, pesquisadores identificam lacunas ou contradições que merecem estudo.
- Ajuda a interpretar resultados – Os dados coletados são analisados à luz de teorias prévias, validando ou refinando o conhecimento científico.
- Guia a escolha de metodologias – Teorias estabelecidas sugerem quais métodos (experimentos, observações, modelos estatísticos) são mais adequados para testar uma hipótese.
Exemplo Prático:
Um psicólogo que estuda motivação no trabalho pode se basear na Teoria da Autodeterminação (que propõe que autonomia, competência e relacionamento influenciam a motivação) para investigar como políticas empresariais afetam o engajamento dos funcionários.
4.2. A Hipótese na Estruturação da Pesquisa
A hipótese é uma previsão testável que estabelece uma relação entre variáveis. Ela transforma uma pergunta de pesquisa em uma afirmação que pode ser verificada empiricamente.
Como é utilizada?
- Define o foco do estudo – Delimita o que será testado, evitando abordagens muito amplas ou vagas.
- Determina o desenho experimental – Se a hipótese afirma que “X causa Y”, o pesquisador deve criar um experimento que manipule X e meça Y.
- Permite falsificação (teste de validade) – Uma boa hipótese pode ser confirmada ou refutada, seguindo o princípio da falseabilidade de Karl Popper.
Exemplo Prático:
- Hipótese: “O uso de redes sociais por mais de 3 horas diárias reduz a qualidade do sono em adolescentes.”
- Teste: Um estudo compararia dois grupos (alto vs. baixo uso de redes sociais) e mediria horas de sono e qualidade (via questionários ou dispositivos de monitoramento).
4.3. Quantas Hipóteses Pode Ter um Estudo?
Não existe um número fixo de hipóteses para um estudo científico, mas a quantidade ideal depende de fatores como:
- Complexidade da pesquisa – Estudos exploratórios podem ter várias hipóteses, enquanto experimentos focados geralmente testam uma ou poucas.
- Recursos disponíveis – Mais hipóteses exigem mais dados, tempo e análises estatísticas.
- Clareza e foco – Muitas hipóteses podem dispersar o estudo, enquanto poucas garantem profundidade.
4.3.1. Recomendações Práticas:
- 1 hipótese principal: Ideal para estudos experimentais (ex.: “X aumenta Y”).
- 2–3 hipóteses secundárias: Comuns em pesquisas correlacionais ou multivariadas (ex.: “X1 e X2 influenciam Y, mas Z modera esse efeito”).
- Mais de 3 hipóteses: Só se justifica em estudos amplos (ex.: levantamentos nacionais) ou quando há múltiplas variáveis independentes.
Exemplos:
- Focado: “Exercício aeróbico (VI) reduz sintomas de ansiedade (VD).” (1 hipótese).
- Amplo: “Idade, gênero e nível educacional (VIs) afetam adesão a vacinas (VD).” (3 hipóteses em uma análise multivariada).
4.3.2. Riscos de Muitas Hipóteses:
- Dispersão – Dificuldade em aprofundar análises.
- Problemas estatísticos – Maior chance de falsos positivos (erro Tipo I) sem ajustes como correção de Bonferroni.
Dica: Priorize hipóteses bem fundamentadas na teoria e viáveis dentro do seu método. Menos pode ser mais!
4.3. Variáveis Independentes e Dependentes na Operacionalização
As variáveis são os elementos mensuráveis que permitem testar as hipóteses de um estudo. Sua correta definição é crucial para a validade da pesquisa.
Como são utilizadas?
- Variável Independente (VI): Manipulada ou observada como possível causa.
- Em experimentos: controlada ativamente (ex.: dosagem de um medicamento).
- Em estudos observacionais: medida sem intervenção (ex.: idade, gênero).
- Variável Dependente (VD): O resultado que se pretende explicar.
- Deve ser mensurável (ex.: notas em uma prova, níveis de estresse).
- Variáveis de Controle: Fatores mantidos constantes para isolar o efeito da VI (ex.: temperatura ambiente em um estudo sobre plantas).
Exemplo Prático:
- VI: Método de ensino (tradicional vs. gamificado).
- VD: Desempenho dos alunos em uma avaliação padronizada.
- Controles: Mesmo conteúdo lecionado, mesma faixa etária dos alunos.
5. Integrando Teoria, Hipótese e Variáveis no Método Científico
O fluxo típico de uma pesquisa envolve:
- Revisão teórica → Identificar o estado da arte e lacunas.
- Formulação da hipótese (ou hipóteses) → Criar uma afirmação testável com base na teoria.
- Operacionalização das variáveis → Identificar as VI e VD e definir como serão medidas.
- Coleta e análise de dados → Testar a hipótese com métodos estatísticos ou qualitativos.
- Interpretação à luz da teoria → Os resultados sustentam, refinam ou contradizem a teoria original?
Caso Integrado:
- Teoria: Teoria Cognitiva Social (Bandura) → Aprendizado por observação.
- Hipótese: “Crianças expostas a modelos altruístas terão mais comportamentos pró-sociais do que crianças sem exposição.”
- VI: Tipo de modelo assistido (altruísta vs. neutro).
- VD: Número de ações pró-sociais em uma tarefa posterior.
- Resultado: Se a hipótese for confirmada, reforça a teoria; se não, pode exigir ajustes no modelo teórico.
6. Os Três Níveis para Investigar um Fenômeno da Natureza
Hipóteses, variáveis dependentes e independentes formam um conjunto de ferramentas que nos auxiliam a criar teorias sobre fenômenos da natureza.
O processo para investigar um determinado fenômeno da natureza normalmente envolve três níveis. No primeiro nível acontece a observação dos fatos, fenômenos, comportamentos e atividades; no segundo nível, temos as hipóteses e finalmente, no terceiro nível, surgem as teorias, hipóteses válidas e sustentáveis (aquelas que foram testadas). A figura abaixo mostra esses três níveis:
Olhando para a figura entendemos que a partir da observações de acontecimentos, fatos, fenômenos e comportamentos, fazemos suposições (criamos) de diferentes hipóteses que podem ou não serem validadas. Uma vez testada e validada, a hipótese nos ajuda na criação de teorias.
6.1. Exemplo: Produtividade no Trabalho
Suponha que você continua investigando a produtividade no trabalho de um determinado grupo de empregados. Com base nas suas observações durante o período de trabalho você levantou (criou) as seguintes hipóteses:
- H1: aqueles empregados que trabalhavam em ambiente com ar-condicionado tinha uma melhor produtividade;
- H2: a boa alimentação tem um impacto positivo produtividade e (iii) a prática de exercícios físicos no ambiente de trabalho aumenta a produtividade dos empregados.
Analisando o exemplo acima podemos dizer que:
- Observação: observando fenômenos, fatos, atividades em uma sala de uma empresa o pesquisador constatou alguns acontecimentos interessantes.
- Hipóteses: com base nessas observações o pesquisador levantou (criou) uma série de hipóteses que quando validadas podem dar origem a uma teoria.
Também foram identificadas as seguintes variáveis:
- Variáveis independentes:
- VI 1: A temperatura é fator determinante na produtividade;
- VI 2: Uma boa alimentação é fator determinante na produtividade e
- VI 3: A prática de exercício físico é fator determinante no aumento da produtividade.
- Variável dependente:
- VD 1: Produtividade
Conclusão
Teoria, hipótese e variáveis formam a espinha dorsal da pesquisa científica. Enquanto a teoria oferece o “mapa” do conhecimento, a hipótese traça o caminho a ser explorado, e as variáveis são as ferramentas que permitem percorrê-lo. Dominar esses conceitos é essencial para:
- Planejar estudos válidos e replicáveis.
- Evitar viéses na interpretação de dados.
- Contribuir para o avanço da ciência de forma sistemática.
Dica para pesquisadores iniciantes: Sempre revise se sua hipótese está alinhada a uma teoria e se as variáveis são claramente definidas. Isso aumenta a robustez do seu trabalho!
Para saber mais sobre metodologia científica e métodos científicos, acesse nossos artigos Metodologia para Trabalhos Acadêmicos: Guia Prático com Exemplos e Normas ABNT e Métodos Científicos: Guia Completo + Normas ABNT.
E você? Já aplicou esses conceitos em uma pesquisa? Compartilhe suas experiências ou dúvidas nos comentários! 🔍📊
Referência:
Marina de Andrare M., Eva Maria L. Fundamentos de metodologia científica. Editora atlas.
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Nossa! Adorei. Sinceramente. Foi de muita valia para mim. Com palavras acessíveis, nada complicado. Realmente, aprendi fácil. Obrigada pela ajuda.
Show. Muito bom a matéria ai, Parabéns,
Excelente texto, mas ha alguma forma de determinar matematicamente a utilidade de uma variavel em um sistema complexo?
gostei esta aula, entretanto peco dicas como elaborar um progecto de pesquisa tema, o problema, as hipóteses, as variáveis, a justificativa, os objectivos e a metodologia
obrigado. meu problema morreu nesta pagina